quarta-feira, 24 de agosto de 2011

As atuações da Neuropsicologia


Neste post vou falar um pouco sobre o trabalho do Neuropsicólogo e quais as áreas em que este profissional atua.

A Neuropsicologia surgiu da interface entre neurologia e a psicologia, fazendo, assim, uma relação entre comportamento e lesões cerebrais. Descobriu-se que qualquer disfunção em um de nossos lobos poderia alterar nosso comportamento, e isso ficou bastante evidente durante o final do século XIX e início do século XX, quando foram estudados soldados feridos na guerra.

Nessa época, observou-se que àqueles que tinham lesões cerebrais manifestavam alterações de comportamentos, como déficit de memória, raciocínio e linguagem.

Vou tentar explicar de forma simples e resumida as funções de cada parte do cérebro e o que ocorre quando uma dessas áreas apresenta alguma lesão adquirida ou congênita.


 O Lobo Frontal é a maior parte de toda a estrutura cerebral e por isso é conhecido por sua  alta função cognitiva. Envolve a atenção, pensamento, movimentos voluntários, tomada de decisão e linguagem.
 Algumas problemáticas nesta área podem acarretar  TDAH, esquizofrenia e transtorno de humor bipolar.

O Lobo Occiptal é a área primária visual do cérebro, é por onde enxergamos. Quando o Oftalmologista faz exame de fundo de olho, consegue ver não só se há algum problema com nossa visão (pressão intraocular), como também em nosso lobo.
Problemas nesta área podem causar cegueira, inabilidade para ver cores, movimentos e alucinações.

Lobo Parietal é responsável pela noção de espaço no qual estamos inseridos. Permite coordenar nossos movimentos de acordo com os objetos no ambiente. Essa noção vai mudando todas as vezes que saímos de um lugar para outro, interagindo com o ambiente para  o qual estamos indo. 
Problemas associados: Inabilidade de localizar e reconhecer objetos ou eventos ou partes do corpo(heminegligência), desorientação e falta de coordenação.

Lobo Temporal contém uma variedade de funções, como: percepção, reconhecimento de faces e objetos, memória de aquisição, significado da linguagem e reações emocionais. Lesão nesse lobo causa as agnosias, que tem relação em não reconhecer categorias específicas, como partes do corpo, objeto, faces, musica e cheiros.
 Problemas associados: Dificuldade  em entender o que está sendo falado (área de Wernick), reconhecer faces (prosopagnosia) e objetos (agnosia), perda de memória de curta e longa duração, crescimento/diminuição no interesse do comportamento sexual e agressão.

O Papel do Neuropsicólogo

Nosso papel é o de auxiliar o paciente, não só reconhecendo as fraquezas, mas também as funções preservadas, reabilitando-o para uma condição de vida mais saudável. Trabalhamos em hospitais (avaliações pré e pós-cirúrgicas), instituições multidisciplinares, em consultórios particulares (avaliações, reabilitação e pesquisa), com a família do paciente afetado, com médicos(psiquiatras, neurologistas), no sistema judiciário (avaliação e perícia)e em pesquisa acadêmica.

Alguns pacientes vêm encaminhados pelos médicos ou pelas clínicas, mas nada impede que a pessoa procure o Neuropsicólogo sem nenhum encaminhamento. Às vezes, um esquecimento que incomoda a vida de uma pessoa, um comportamento mal adaptado ou impulsivo, podem ser motivos suficientes para buscar investigar o motivo.

O importante é lembrar: se você acha que algo está alterado e que está lhe trazendo prejuízo, procure ajuda!!



Referência Bibliográfica:

Dolan DNA learning Center at Cold Sprng
Harbor laboratory





terça-feira, 16 de agosto de 2011

A OBESIDADE É TRANSMISSÍVEL?


Sabe-se que “os transtornos adictos são essencialmente problemas motivacionais” (Oliveira apud Heather, 1982) e pensando assim, pode-se entender porque os obesos não realizam as dietas prescritas; pacientes cardíacos não deixam de fumar; o alcoolista não para de beber, creditando à motivação a força propulsora que move os indivíduos a um objetivo.

Então é a motivação que move o sujeito para a tomada de decisão? Sim, cada um com seus desafios e barreiras a serem derrubadas.
Vamos ver o caso da obesidade. Sabe-se que esta já é considerada epidemia global preocupando ministério da saúde e governo de uma forma geral.  Mas o interessante é notar que nas populações de baixa renda a obesidade cresce mais e isso ocorre por dois fatores:
1)      Os alimentos que mais engordam são os mais baratos e mais práticos (como congelados, por exemplo);
2)      A falta de tempo da população para cozinhar de maneira saudável, o ritmo agitado de trabalho e a presença de sedentarismo estão presentes neste grupo. Não esquecendo de mencionar fatores como a falta de dinheiro e em alguns casos, a impossibilidade de caminhar pelas ruas devido a  vizinhança violenta.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é classificada como “doença crônica não transmissível”. Mas, será? Há um estudo que acompanhou durante 25 anos famílias de brasileiros que vivem no subúrbio de Boston, EUA. Essa pesquisa analisou milhares de pessoas incluindo marido, irmãos, filhos e o melhor amigo, sobre o tipo de relação que era desenvolvida entre eles. Após esse período, foi avaliado o que fazia com que aumentasse o risco de se desenvolver a obesidade. A conclusão foi a seguinte:
1)      Se tivesse um vizinho obeso, isso não implicava em nada;
2)      Se tivesse um marido obeso, aumentava um pouco o risco de a outra pessoa tornar-se obesa também;
3)      Mas, se esta pessoa tivesse o melhor amigo obeso, ela poderia se tornar igualmente obesa, ou seja, suas chances eram maiores do que nos casos anteriores.


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Isso ocorre, segundo a pesquisa, porque somos capazes de transmitir a outros nossos hábitos de alimentação e de vida sedentária. Se seu melhor amigo não faz nenhuma atividade e prefere ficar assistindo TV, fatalmente você irá fazê-lo companhia.  Com o tempo, estará assumindo seus mesmos hábitos. Através dessa pesquisa, conseguiu-se provar que os amigos têm  mais influência sobre a vida do outro do que a própria família. E que, portanto, a obesidade poderia ser considerada transmissível, não por bactérias ou vírus, mas através do estilo de vida.
Algo a se pensar não é? Será que somos capazes de introjetar hábitos alheios a nossa vida sem nos darmos conta?
Acredito que depende de muitas coisas e sendo a obesidade multifatorial, não se pode afirmar categoricamente que por um motivo ou outro se desenvolvera numa dada família.
Mas a questão da motivação entra onde? Bom, deveria servir para que se pudesse pensar nisso de forma crítica e mudar os hábitos alimentares. A simples tarefa de se movimentar deveria ser considerada por todos como algo saudável. Pelo simples pensamento de melhorar sua saúde e baixar o colesterol ruim do sangue.
Não é necessário querer ser igual a artistas da TV e se motivar a partir daí, pois provavelmente, você não conseguirá. Basta pensar no quanto seria benéfico para seu corpo, sua família, sua vida ou sua autoestima.
Deixo aqui o recado de que “mudar é preciso, caminhar é preciso”.

Beijos




domingo, 7 de agosto de 2011

Por que comemos Parte II

         Pesquisando para meu projeto com obesidade durante esta semana, encontrei vários dados interessantes e alarmantes revelados em pesquisas.

         Por exemplo, alguém sabia que em dez anos, de 1999 a 2009, número de cirurgias para a obesidade mórbida cresceu 500% no país? O que isso nos diz: que comemos muito ou que nos exercitamos pouco? Esse boom durante esta década mostra o quanto estamos mal conosco e sem preparo para a tecnologia que nos assola cada vez mais rápida com deliveries.

            Falar de obesidade não é algo novo, pois a temática sempre foi alvo das atenções, seja de forma negativa ou positiva.  Se no mundo pré-industrial a opulência do corpo foi considerada ideal, hoje não é o que se vê.

            O médico Wilhelm Ebstein (1836-1912) classificava nessa época a obesidade como polisarcia adiposa de acordo com as reações sociais das pessoas com excesso de peso. Ele as classificava em três categorias:
Dos invejados;
Dos ridicularizados;
Dos coitados.

            Nos dias de hoje, o que se vê comumente é a zombaria e até certa pena por alguns nesta situação, mas certamente não mais motivo de inveja.

            O preconceito parte de todas as classes socioeconômicas com as mais variadas idéias acerca do obeso, que vai desde preguiçoso e sujo até menos inteligente e menos comprometido com as tarefas.

            Em uma pesquisa realizada com pessoas que trabalham na área de saúde, entre elas, médicos, enfermeiros, nutricionistas e estudantes de medicina foi constatado os prejulgamentos e discriminações em relação aos obesos. Muitos enfermeiros gostariam, por exemplo, de não tratar pessoas obesas, mostrando repulsa e preferindo não tocá-las.

            Em outra pesquisa realizada com médicos americanos foi pedido que listassem uma categoria de pacientes que ele tivessem sentimentos negativos em tratar. O ranking foi:
  Dependentes de drogas
2º Alcoolismo
3º Doenças mentais
4º Obesidade
Por que?

            Acredito que encontramos a resposta para a informação fornecida no começo do texto sobre o aumento da cirurgia bariátrica. Ninguém deseja ser desprezado pelo outro, muito menos por uma sociedade que valoriza o belo e o perfeito. Sabendo o obeso que não se enquadra nos “padrões exigidos”, tenta fazer o seu melhor para se encaixar nesse mundo perverso.

            No entanto, a comida é como se fosse uma figura de fundo para algo muito maior escondido ou esquecido na psique do sujeito. Tratar a obesidade não é algo fácil, deve ser considerado o que motiva o sujeito a comer e quais são as emoções envolvidas nesse processo. Nutrir os sentimentos com a comida traz satisfação no primeiro momento e depois culpa e sensação de perda de controle, por ter cedido àquela emoção.

            Podemos entender porque tantas pessoas recorrem a cirurgia bariátrica como forma de melhorar a vida. Mas, necessário lembrar que, essa intervenção não deve ser vista como tratamento para emagrecimento. Pelo contrário, traz complicações sérias no pós-cirurgico em termos psicológicos e biológicos. A preparação e a conscientização desse processo deve ser construído passo a passo com uma equipe multidisciplinar. O estar magro e o ser magro são estruturas lingüísticas e psicológicas totalmente diferentes que devem estar muito claras para o obeso. Sem mencionar a necessidade de acompanhamento psicológico durante longo período.

            Quando as necessidades fisiológicas básicas retratadas por Maslow se sobrepõem às outras igualmente importantes, devemos procurar entender o motivo que nos levou a consumir mais alimento do que gastar energia. Escamotear emoções e jogá-las contra nós mesmos não alivia a raiva que se sente quando é discriminado ou quando não alcançamos um objetivo. Fazemos o mal a nós mesmos e somos o sujeito dessas ações.
           
Referencia bibliográfica:

BOSELLO, Ottavio; CUZZOLARO, Massimo. Obesidade e Excesso de peso: entre a doença e o problema estético. São Paulo:Paulinas, 2010

Revista Psique. Ano VI, numero 67, pp.39-47, 2011.