quarta-feira, 1 de agosto de 2012

É possível conversar durante uma festa no meio do barulho?

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Se observarmos as pessoas numa festa e, até nós mesmos, perceberemos algo curioso: conseguimos, de certa maneira, conversar apesar do fundo sonoro alto e do borborinho das pessoas.

*O inglês Colin Cherry (1953), do Instituto de Tecnologia de Massachussets, chamou isso de cocktail party. Segundo ele, uma pessoa consegue ouvir a outra em situações como essa graças a um mecanismo que filtra uma mensagem e rejeita as outras: é a chamada atenção seletiva.

Cherry inventou a técnica da escuta dicótica, que consiste em fazer com que a pessoa escute simultaneamente (graças a um fone de ouvido estéreo) duas mensagens diferentes, uma em cada ouvido. Ouvir duas mensagens é impossível, e Chery observou que os indivíduos fechavam os olhos para se concentrar melhor. Em compensação, quando pedia às pessoas que prestassem atenção no ouvido direito, a   mensagem desse lado era compreendida, enquanto a do lado esquerdo mal era lembrada. É o mecanismo de atenção seletiva que permite que nos concentremos, que nos desliguemos do ruído ambiente ou de uma conversa, para refletir ou ler. 

(...) Em uma experiência de escuta dicótica, as mensagens enviadas aos dois canais (ouvidos esquerdo e direito) eram quatro pares de palavras e números (p.e.: gato/4; rua/8; dia/3). Pedia-se aos participantes que se lembrassem primeiro da mensagem de um ouvido, depois a do outro. Primeiramente perguntaram a eles quais foram os pares que ouviram em cada lado. para o primeiro ouvido, a lembrança foi muito boa, de 80% a 100%. Inversamente, a mensagem do segundo canal foi desastrosa, de 20% a 60%. Por outro lado, quando se pediu aos participantes que lembrassem o que foi dito por categoria, ou seja, primeiro os números e depois as palavras, a lembrança foi bem melhor para o segundo ouvido, que era o canal não esperado.

Isso mostrou que o filtro não eliminou a informação do segundo ouvido, pois foi possível encontrá-la. A informação foi primeiramente analisada e memorizada, e só na sequência a atenção realizou seu trabalho de seleção.

Uma forma de ver esse tipo de experiência acontecer na prática é reparar quando estamos lendo uma revista ou assistindo a TV e aguçamos o ouvido quando sentimos que estão falando de nós, ou quando falam uma palavra de um assunto que nos interessa. O mesmo ocorre com a mãe que adormece profundamente assistindo a um filme na TV, mas é capaz de acordar ao ouvir o menor suspiro de seu bebê.

* Matéria retirada da revista Psicologia - experimentos essenciais: Cérebro e Memória. São Paulo:  Duetto Editorial, 2010, pp.94-95.