domingo, 25 de dezembro de 2011

O ano termina e começa outra vez...

O  ano chegou ao fim, foram 365 dias de vitórias, derrotas, cansaços, alegrias, tristezas, boas notícias, más notícias, tudo misturado no decorrer dos meses. No entanto, o que parece ruim para alguns, para mim é a chance de fazer melhor. Quem sabe um novo começo ou a chance de errar menos e aprender mais; continuar de onde parou ou mudar totalmente sua estratégia ...

Confesso que do Natal não sou muito fã, não que a data me aborreça, mas o fato do quanto às pessoas se esquecem do verdadeiro motivo de festejo e saem frenéticas à caça de presentes e comidas. O que é isso? Voltamos aos estudos de Darwin?!  Não que presentear não seja algo simbólico como uma lembrança, um carinho, de alguém que gostamos e resolvemos demonstrar nosso afeto. O que me entristece é ver pessoas fazendo no fim de ano conjunturas e profecias para o próximo que vai chegar de forma desesperada. 

O fim do mundo não está próximo, como os Mayas pensavam, e a cada ano novo podemos reavaliar nossas metas e incluir outras mais em nosso pote do desejo. Não há nada de mais em querer uma vida melhor, em viajar, ter um emprego que pague mais... Mas, pedir não vai mudar nada, temos que fazer algo para que aconteça.

Termino este último post  de 2011 desejando paz, juízo, compreensão e respeito, pois acredito que sem esses elementos não poderemos acreditar em nós e nem nas pessoas que nos cercam. O novo ano não muda nada em nossa vida, é mais uma contagem até chegar ao número 365. Lembremos que quem muda somos nós, somente quem age e se movimenta é capaz de mudar.




segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Uma dose de autocontrole, por favor?

Ao assistir ao programa da Globonews sobre autocontrole  e sobre como resistir às tentações do dia a dia com a participação de especialistas no assunto, achei interessante e resolvi falar um pouco sobre o que foi abordado.
Imagens Google

O cérebro é o responsável por nosso comportamento e por nosso sucesso e fracasso em tudo aquilo que nos dispusemos a fazer. É ele quem controla nossas emoções e reações diante do impulso ou da resistência em comer, trabalhar ou comprar compulsivamente. Tudo isso tem relação com a dopamina, uma substância que se espalha por todo cérebro dando a sensação de prazer, sendo difícil lutar contra ela.

Podemos perguntar: Por que é tão difícil lutar contra a tentação? Por que é tão instigante para o cérebro a sensação do prazer? Segundo o Psiquiatra Adriano Segal, diretor de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, na cidade de São Paulo, desde os primórdios, fomos acostumados a lutar pela comida e, como esta era escassa, necessitávamos comer em grande quantidade. Com a evolução da humanidade, o alimento tornou-se mais fácil, assim como a variedade e a oferta. No entanto, nosso cérebro, desde a época dos Australopithecus, ainda conserva a mesma essência “do comer mais para acumular gordura”, sendo a diminuição da alimentação interpretada como ameaça à vida.  Isso quer dizer que tudo que nos dá prazer está ligado à nossa sobrevivência ou à procriação, essa herança nos persegue por toda eternidade, não sendo fácil nos livrarmos das calorias dos tempos das cavernas.

Pensamos então em como lutar contra nós mesmos, já que faz parte de nosso DNA, a busca pelo alimento. Para Lilian Mara, orientadora do Vigilante do Peso, “não deve haver alimento proibido, desde que se tenha uma liderança em relação a ele, criando um ambiente de apoio, hábitos mais saudáveis e coloque em nosso cotidiano, esse enfrentamento.” Sabemos que o prazer é fundamental para nós e que, de vez em quando, necessitamos dessa dopamina, dessa descarga para ter sensação de bem estar.

Imagens Google
Para Analice Gigliotti, Psiquiatra da Santa Casa de Misericórdia do Rio e chefe do Setor de Dependência Química, “o ideal é a pessoa fazer o máximo de exercício físico, além de conhecer a si mesmo no sentido de perceber que tudo aquilo que é imediato é muito pequeno em relação a algo maior.” Podemos encontrar outras formas de prazer na vida sem exagerar nas coisas que gostamos de fazer, nos equilibrando de maneira positiva. A psiquiatra fala ainda sobre o conceito da “roda do bem estar”, abordando sobre o que é o ideal para nós. Esta relata que todos nós devemos ter uma vida espiritual e social, uma vida de lazer, uma vida profissional  e ainda cuidar da nossa saúde. O segredo é ter todos esses elementos equilibrados para que a roda gire de maneira correta. O buraco em um desses elementos irá fazer com que o preenchamos com algum prazer excessivo.

Achei interessante essa comparação com a roda, pois sabemos que se há um furo, por exemplo, no pneu do carro ou da bicicleta, ambos não irão trabalhar de maneira correta e irão nos atrasar, pois teremos que trocar o pneu.

Diante disso, fiquei pensando se haveria como desenvolver o autocontrole e, para minha alegria, de acordo com o psiquiatra Adriano Segal, sim. Através de treinos desde a tenra infância colocando limites nas ações dos nossos filhos e até em nós mesmos, aprendendo a dizer mais nãos. Isso facilita o controle, mas leva tempo e muito treino.

Para os adultos, a Drª Analice recomenda usar quatro verbos para praticar o autocontrole: evitar, escapar, distrair, adiar. Evitar expor-se ao ambiente que pode desencadear falta de controle; escapar de situações semelhantes; distrair seus olhares para coisas que não têm a ver com aquilo que desencadeia a falta de controle e adiar a sensação de prazer. Ela explica que, neste último, esse desejo forte como a fissura, por exemplo, tem um tempo limitado, por isso, adiar é a melhor solução.

Que saibamos ponderar nossas escolhas, agindo com equilíbrio em nossas vidas.



domingo, 20 de novembro de 2011

Reforma Psiquiátrica no Brasil

Esse mês, comemoramos 10 anos da lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil e, por isso, não poderia deixar de comentar por um breve momento, e de forma resumida, como tudo aconteceu até aqui.


Imagens Google


Ao lembrarmos a constituição histórica da doença mental, devemos ter em mente que o status de doença mental da loucura é uma idéia relativamente nova. No passado, até o advento da medicina positiva, as pessoas ditas loucas eram consideradas possuídas, sendo essa, para a visão da época, a causa de sua loucura. Para esse raciocínio equivocado, os possuídos, na verdade, seriam loucos porquanto possuídos.

Nesse emaranhado de idéias sobre a história da possessão-loucura, ganham relevo dois momentos importantes, sobre os quais eu gostaria de falar.

Antes mesmo do século XIX, ainda nos anos de 1560 a 1640, a medicina interferiu nesse problema da loucura-possessão a pedido dos Parlamentos, dos governos e da hierarquia católica. Os médicos foram encarregados de mostrar que a loucura enquanto possessão não existia, e que esse fato seria fruto de uma mente perturbada e desregrada.

Numa segunda oportunidade, entre 1680 a 1740,  a pedido da Igreja Católica e dos governos, contra a exploração do misticismo protestante, os médicos apareceram mais uma vez para mostrar que os fenômenos de êxtase, da inspiração e do profetismo eram frutos de movimentos violentos dos humores.

Traçando uma linha cronológica de acontecimentos, podemos dizer que do século XV a  XVII, a experiência da loucura era vista de forma natural. Os loucos andavam livremente entre os cidadãos, e até mesmo escreviam e atuavam em peças teatrais. Já em meados do século XVII, a loucura torna-se uma forma de exclusão por toda a Europa, onde são criado estabelecimentos para internação dessas pessoas. No entanto, não eram os loucos os únicos ali aprisionados. Lá se encontravam também prostitutas, mendigos, idosos, portadores de doenças venéreas, libertinos, enfim, toda a espécie de pessoas a quem a sociedade não “desejava” mais. Em Paris, surge o Hospital Geral, que não tinha nenhum cunho curativo. Por esse tempo, apreciava-se não a relação da loucura com a doença, mas a relação da sociedade consigo mesma e todos que não podiam produzir riquezas não poderiam fazer parte dela. A ociosidade era um pecado, e não mais o orgulho e  a avidez no comércio.

E assim, por 100 anos, a loucura foi silenciada. Em meados do século XVIII  há uma comoção para que haja a abolição do internamento e que os loucos fossem libertados. A Revolução Francesa, com o lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade, não admitia mais a opressão dessas pessoas internadas e excluídas. No entanto, surge um problema: alguns loucos são realmente perigosos, não podendo ficar com suas famílias e nem livres na sociedade, o que fazer? Para essas pessoas, o internamento continuaria, enquanto o restante seria libertado. O hospital ficaria somente e exclusivamente para os loucos.

A partir deste novo cenário, a internação ganha significação de caráter médico, aparecendo Pinel na França e  Tuke na Inglaterra. Com isso, a história da loucura tem duplo advento: do humanismo e da ciência positiva.
Podemos pensar isso hoje. Será que vemos algo de diferente em nossa sociedade? A lei federal 10216/2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, mas é isso o que vemos? A proposta é interessante, mas como lidar com famílias que não têm condições econômicas ou não querem esse ente convivendo na mesma casa?

A Reforma Psiquiátrica pretende construir um novo estatuto social para o doente mental, que lhe garanta cidadania, o respeito a seus direitos e sua individualidade. Isto quer dizer modificar o sistema de tratamento clínico da doença mental, eliminando gradualmente a internação como forma de exclusão social. Este modelo seria substituído por uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, visando a integração da pessoa que sofre de transtornos mentais à comunidade. Conhecemos para isso, centros de atenção psicossocial (CAPS), centros de convivência e cultura assistidos, cooperativas de trabalho protegido (economia solidária), oficinas de geração de renda e residências terapêuticas, descentralizando e territorializando o atendimento em saúde, conforme previsto na Lei Federal que institui o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

A lei procura ajudar o doente, mas não fornece subsidio para aqueles que, supostamente, irão acolhê-lo. Não estamos falando de recursos financeiros somente, mas de aceitação de alguém que esteve afastado por longos anos e retorna a sua casa. Substituir o modelo arcaico dos manicômios do Brasil não basta, é necessário conscientização de toda a população para um novo cenário.

A título de curiosidade, com relação a toda essa questão de exclusão social, loucura, e reforma psiquiátrica, existem algumas datas importantes para entendermos como esse panorama é relativamente novo:
1936-  Praticada as primeiras lobotomias (Europa)
1938-  Início da prática do eletrochoque (Europa)
 Inicio dos anos 80 – Abolição do eletrochoque, lobotomia e abuso no uso de neurolépticos ( Brasil)

Referência Bibliográfica:
www.slideshare.net
FOUCAULT, M. Doença Mental e Psicologia. Tempo Brasileiro, 6ª edição, Rio de janeiro, 2000.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nem tudo é o que parece

O post de hoje é para descontrair e, ao mesmo tempo, nos fazer pensar sobre a importância que o cérebro tem em nossa vida quando se encontra em perfeito funcionamento.

Buscando relacionar as atividades  desempenhadas por nós, envolvendo os  lobos de nosso cérebro, separei algumas imagens para descontrair. Estas sugerem ilusão de ótica, imagens em movimento e imagens ambíguas. Antes de pensarmos como conseguimos ver o que “não existe”, ou ver uma forma diferente de nosso colega, devemos considerar nossas experiências pessoais. A subjetividade impregna nosso inconsciente, interferindo em nosso juízo de valor, planejamento de ações e, até mesmo, na observação de figuras.
Vamos ver?
As primeiras são exemplos de imagens ambíguas, podemos considerar a figura ou o fundo, ou, ainda os dois.

Imagens Google
Você vê o rosto de uma mulher ou flores e caules?
Na verdade, cada um vê aquilo que deseja, mas as duas imagens são as esperadas. Portanto, se você viu a mulher e a flor, parabéns!



brincandodegentegrande.blogspot.com
Qual figura vemos? Um rosto deitado de lado ou um grupo de pessoas reunido?







Este outro exemplo mostra a capacidade de nosso cérebro de dar formas a objetos ou de mostrarmos nossa tendência em procurar coisas conhecidas por todos os lados. É comum fazermos isso, pois tentamos nos adaptar ou  reconhecer o ambiente através das expressões faciais para detectar perigo ou para sobrevivência.

Imagens Google

Sabemos que a figura é de um rádio, certo? Apesar disso você consegue ver um rosto? A caixa de som como olhos redondos e o sintonizador de estações como a boca. É claro que isso também depende das funções mentais superiores, nas quais estão presentes a criatividade, o insight, a plasticidade, entre outras.



Olha aí outra bela imagem da natureza que nos agraciou com este rosto! Conseguem ver dois olhos e uma boca?


Um fato bem comum do qual não nos damos conta, é quando alguém nos convida para uma festa na qual não conhecemos ninguém, somente quem nos convidou. Quando chegamos e observamos aquela multidão, procuramos imediatamente pela pessoa que conhecemos. É de praxe nos posicionarmos num local estratégico para encontrar aquele rosto familiar. Como conseguimos ignorar tantos rostos em detrimento de um? Quando encontramos quem procurávamos, traçamos mentalmente, um caminho a percorrer até ela. Ás vezes fazemos malabarismos, pois calculamos mal o tamanho do espaço e o nosso, para chegar até a pessoa e dizer: “ Te encontrei!!!”

Todo esse planejamento não é a toa, pode ser imperceptível, mas fundamental para nossa vida. Foi através do lobo parietal que conseguimos chegar até a pessoa, traçando o caminho e foi pelo lobo temporal, que conseguimos prestar atenção somente no rosto conhecido.
Gostou? Faça isso quando você for à próxima festa!

O teste abaixo possui uma imagem ambígua e foi projetado por Roschard em 1921. È um teste projetivo no qual o sujeito responde ao terapeuta o que mais lhe parece o borrão.

Imagens Google
O que você vê aqui? As respostas mais comuns são um morcego ou uma borboleta, mas há pessoas que relatam ver cenas perversas.
Novamente tentamos adequar o borrão ao nosso dia a dia, procurando uma figura que nos seja familiar. Bacana, não?
A nível de curiosidade, este borrão estava no filme do Batman como quadro no escritório da psicóloga. Bruce Wayne fala:
“Você tem um quadro de morcego!”
“ Não, é um Roshard, cada um vê aquilo que projeta de seu inconsciente”, responde a psicóloga.

E esta ilusão de ótica? Está girando ou não? A resposta é não! Se você fixar o olhar no ponto preto no meio do círculo, a figura “para” de girar. A sensação de estar rodando acontece devido ao contraste de tons e a distribuição do degradê. Além da repetição de padrões assimétricos e curvos. 



brincandodegentegrande.blogspot.com



 Espero que tenham gostado!!

Beijos

Referência Bibliográfica:
Super Interessante- Edição Especial- As melhores ilusões de ótica de todos os tempos.


sábado, 22 de outubro de 2011

Onde estive ontem? Eu te conheço?

Provavelmente você já se perguntou isso algumas vezes e ficou sem resposta, não é?Vamos dar seguimento ao post anterior falando sobre a memória e como a falta desta afeta nossa relação com o mundo.

Todas as vezes que nos referimos a memória, devemos associar a :
Fixação – capacidade de gravar novas informações;
Evocação – capacidade de agregar atualizar informações às que já existiam;
Reconhecimento – capacidade de recordar uma imagem.

neuropsicologia.net
Nós, sem isso, não somos nada. Quando há uma alteração na fixação e na evocação, podemos desenvolver a amnésia(abolição da memória); a hippomnesia (enfraquecimento da memória); a hipermnésia ( exagero patológico da evocação); dismnesia( pertubação da fixação e evocação). Voltamos a lembrar da publicação do post anterior em que falava sobre pessoas que sofreram lesões em determinada parte do cérebro e tiveram sua memória afetada. Hoje é comum falarmos em amnésia anterógrada (quando a pessoas não se lembra de fatos depois do evento traumático), amnésia retrógrada ( em que a pessoa não se lembra de coisa alguma antes do trauma) e amnésia retroanterógrada ( quando a pessoa não se lembra de nada antes e nem depois do fator desencadeador do trauma).


www.nyt.com
Quando falamos em disfunção no reconhecimento, estamos nos referindo às agnosias (transtorno de reconhecimento de imagem, sem que haja defeitos sensoriais e quando o objeto é familiar a pessoa) e paramnésias ( quando se trata de imagens criadas pela fantasia aceitas como recordação de acontecimentos reais. Ex: dejá vi). Dentre tantos problemas de reconhecimento geradores de estresse, gostaria de mencionar a prosopagnosia (é o não reconhecimento de faces) acarretado por uma um derrame ou  lesão na cabeça. Nesta, o sujeito enxerga um borrão no lugar da face de outras pessoas, inclusiva a sua própria, sendo impossível identificá-la. È evidente que existem outras mais, no entanto, não é nosso intuito falar de todas as agnosias estudadas na literatura aqui. Mencionei esta pelo fato do sujeito não reconhecer as pessoas da própria família, tendo que prestar atenção em coisas muito sutis para fazer a identificação. O sujeito, para descobrir quem é a pessoa com quem está falando, necessita de um olhar e uma escuta minuciosa para distinguir tipo de cabelo, a cor, a forma; se a pessoa é alta ou baixa; se o tom da voz é agudo ou rouco; o formato das mãos entre outras observações. Portanto, vemos que é preciso grande esforço para continuar interagindo com amigos e entes queridos sem que seja desconectado das relações sociais.

Beijos e  até mais.

Referência Bibliografica:
CUNHA. Jurema Alcides. Psicodiagnóstico V






sábado, 8 de outubro de 2011

Como anda a sua memória?

Como já foi dito em posts anteriores, a memória é essencial para nossa sobrevivência, formação de redes sociais, aprendizagem, enfim, para que tenhamos nosso lugar no mundo. Imagine se começássemos a esquecer quem somos, onde moramos e mudássemos de atitude bruscamente do dia para a noite? Há pessoas que são acometidas por doenças degenerativas, como o mal de Alzheimer, que causam esquecimentos sutis no inicio, e que depois passam a se apresentar de forma mais acentuada. Há quem sofra uma pancada, um acidente, e a partir daí mude radicalmente seu comportamento comprometendo toda sua vida.

alz.org
No caso da doença de Alzheimer, há degeneração e morte celular no hipocampo (responsável pela consolidação de novas memórias de longa duração e relação espacial) e regiões vizinhas ao córtex, como conseqüência de processos metabólicos alterados nos neurônios dessa região. Isso leva à formação de emaranhados de fibras nervosas e placas formadas pelo depósito de uma proteína em quantidade excessiva pelas células nervosas. Os sintomas são: esquecimentos maiores do que o habitual, principalmente para fatos recentes, irritabilidade excessiva, déficit de linguagem, dentre outros.

Há casos clínicos na literatura, como o do americano Phineas Gage, funcionário de uma ferrovia que teve seu córtex pre-frontal destruído por uma barra de ferro em 1868. Ele sobreviveu e manteve suas funções cognitivas normais, mas teve sua personalidade modificada. Se antes era zeloso, responsável e sério, passou a ser displicente, vagueando de um emprego a outro, dizendo grosserias e exibindo a barrra de ferro que o ferira. Nem seus amigos o reconheciam mais.

Imagens Google

Estudos realizados por cientistas espanhóis da Universidade Pablo de Olavide de Sevilha, em 2007, sobre o córtex pré-frontal, dizem que este está relacionado à estratégia: decidir que seqüências de movimento ativar e em que ordem, além de avaliar seu resultado. Por esta descoberta, conseguiram correlacionar, também, alguns transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia, com a alteração no córtex pré-frontal.

Henry Molaison (HM) faleceu em 2008 com 82 anos

Há outro caso na literatura interessante, sobre o paciente canadense HM, que sofria de epilepsia convulsivante desde a adolescência. Pelo numero de ataques por dia que ele sofria, foi sugerido pelos neurologistas uma cirurgia radical, visando remover os focos  epiléticos. Logo após o procedimento cirúrgico, constatou-se grande melhora no quadro convulsivo, mas, também, grande perda de memória. Isso foi em 1953, quando HM tinha 27 anos. Após vários anos da cirurgia, ele dizia não recordar-se dela, não reconhecer os profissionais de saúde que o atenderam, e nem de fatos ocorridos a partir de 1953. Lembrava-se, no entanto, de fatos ocorridos antes da cirurgia, fatos mais antigos de sua vida, exceto aqueles no período de dois a três anos precedentes à cirurgia. O quadro era de uma amnésia anterógrada total, isto é, completa perda de memória para os fatos ocorridos após a lesão de seu sistema nervoso.

Imaginem não lembrarmos fatos de nossa vida após uma cirurgia? Ficarmos recordando o passado, mas não acreditar, não lembrar que o tempo passou (tal como naquele filme Amnésia). Angustiante para nós e para a família, não acham? Isso pode acontecer quando levamos uma pancada na cabeça que leve a uma lesão, prejudicando não só a memória, mas outras função vitais do nosso corpo.

Semana que vem tema mais notícias sobre amnésia e hipermnésia.
Ate lá.


Rerefência Bibliográfica:
Amnésia e interferência sobre a memória
www.ic.unicamp.br
Imagem Google (HM)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Qual é a sua inteligência?

Assim como a memória nos faz ser quem somos, situando-nos no tempo e espaço,  a inteligência é a capacidade de pensar racionalmente e agirmos em  direção ao que desejamos. Para isso, necessitamos das competências mentais desenvolvidas ao longo do tempo.

A  inteligência conceituada por Howard Gardner, psicólogo americano, leva em conta o potencial biopsicológico para processar informações, solucionar problemas ou criar produtos. È o que ele chama de potencialidades humanas não devendo o individuo ser julgado apenas por seu quoeficiente de inteligência (QI). Essas avaliações psicométricas não levam em conta uma habilidade mental mais desenvolvida do que outra, consideram como pontuação a inteligência lógico-matemática e a linguagem.

Sendo assim, seria considerado mais inteligente quem possuísse maior habilidade em cálculos do que em português? Não de acordo com o psicólogo. Ele desenvolveu a teoria das múltiplas inteligências ressaltando o potencial em cada sujeito de maneira diferenciada. Todas são importantes na nossa vida social, mas não quer dizer que, necessariamente, tenhamos todas elas.

Todos temos mais habilidades em algumas coisas e menos em outras. Podemos chamar de pontos fortes as atividades que desenvolvemos sem maiores problemas; e de habilidades a serem desenvolvidas, àquelas que  temos ainda certa dificuldade em desempenhar. O importante é lembrar que todos têm suas próprias potencialidades sendo estimuladas e desenvolvidas de acordo com o ambiente em que estão inseridos.

As inteligências identificadas por Gardner foram:

idadecerta.com.br
1) Verbal-linguistica: caracterizado por domínio e gosto por idiomas e pelas palavras, como poetas, filósofos;
2) Lógico-matemática: pessoas que possuem habilidade para raciocínio dedutivo para solucionar equações  matemáticas;
3) Visual-espacial:  pessoas que conseguem transformar o que vêm transformando e recriando o mundo ao seu redor como escultores, arquitetos.
4) Musical: pessoas que compõem músicas, lêem partituras e conseguem repetir a música “de ouvido” no instrumento;
5) Interpessoal:  expressada pela competência em entender os outros, seus desejos;
6) Intrapessoal: capacidade de se entender, de se avaliar, de se autoconhecer;
7) Naturalista: mais recente, caracterizada em compreender e classificar objetos e fenômenos da natureza (plantas, minerais, animais) como biólogos e geólogos

Embora ainda vista com certa desconfiança entre profissionais de psicologia e educadores, não podemos deixar de notar sua importância quando o assunto é a valorização do ser biopsicossocial.

Lembramos mais uma vez que, o teste de QI não considera a avaliação de diversas funções cognitivas que podem estar seletivamente falhas, como: a atenção, as funções motoras e as funções executivas (Lezak, 1983). O neuropsicólogo possui instrumentos de avaliação que permitem explorar outras capacidades do indivíduo indicando as áreas de força e fraqueza.

Espero que com este post possamos pensar sobre nossas potencialidades bem desenvolvidas sem ficarmos tristes por aquilo que ainda temos que nos aprimorar.

Beijos 


            




sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Idade do Cérebro

 Percebemos que uma pessoa sem memória, praticamente não existe, uma vez que, é ela quem dá sentido a nossa vida. A memória é uma função neuropsicológica relacionada a nossa identidade, situando-nos no tempo e espaço, compartilhando conhecimentos em comum, relembrando fatos de nossa infância.

 Pensando sobre esse assunto, um programa da Globonews sobre tecnologia e ciência,  fez uma matéria sobre a idade do cérebro. Achei super interessante, uma vez que tem muito a ver com os estudos e as avaliações da neuropsicologia sobre a memória e o envelhecimento.

Segundo a editora e jornalista do caderno de ciências do New York Times, Susan Strauch, antigamente acreditava-se que com o envelhecimento, o cérebro perdia 30% das células. Isso, no entanto, não é considerado mais como atual, a maioria das células continua lá. Com o tempo, “perdemos interações químicas, ramificações, ocorrem certos declínios, mas no geral, o cérebro permanece intacto. (...) relata a editora.

Staruch ressalta ainda que, a meia-idade não traz somente perdas, mas ganhos muito importantes. Como por exemplo, a mielinização, que é o revestimento da célula por uma camada de gordura, aumentando a velocidade dos sinais. Acredita-se que, o revestimento dos neurônios e a rapidez das conexões são características da sabedoria da meia-idade.

De acordo com neurologista da UFRJ, Marcelo Py, as pessoas de meia-idade têm bom cérebro para resolver problemas, pois unem a experiência aprendida do passado com coisas novas do presente. Agregam informações ao que já sabiam constituindo um banco de dados maior do que o do jovem.

fernandonogueiracosta.wordpress.com
E ainda tem mais, pessoas de meia-idade costumam ver o futuro de maneira mais otimista do que o jovem, pois estes ainda não têm a experiência necessária e a certeza do que desejam se profissionalizar no futuro. As duvidas são muitas e as angustias também. Embora aprendam de forma mais rápida do que pessoas de meia-idade, ainda não conseguem agregar todo esse conhecimento de maneira uniforme como àquelas  mais velhas.

Um exemplo disso são as empresas que voltaram a contratar funcionários aposentados para atuar no antigo setor. Os jovens contratados não sabem como lidar ou não têm experiência naquela área. Vieram de concurso público no qual exige conhecimento teórico e não prático para uma área específica.

Dessa forma, vemos que os 40 anos estão com a “bola toda” e cada vez mais requisitados quando o assunto é experiência.



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

As atuações da Neuropsicologia


Neste post vou falar um pouco sobre o trabalho do Neuropsicólogo e quais as áreas em que este profissional atua.

A Neuropsicologia surgiu da interface entre neurologia e a psicologia, fazendo, assim, uma relação entre comportamento e lesões cerebrais. Descobriu-se que qualquer disfunção em um de nossos lobos poderia alterar nosso comportamento, e isso ficou bastante evidente durante o final do século XIX e início do século XX, quando foram estudados soldados feridos na guerra.

Nessa época, observou-se que àqueles que tinham lesões cerebrais manifestavam alterações de comportamentos, como déficit de memória, raciocínio e linguagem.

Vou tentar explicar de forma simples e resumida as funções de cada parte do cérebro e o que ocorre quando uma dessas áreas apresenta alguma lesão adquirida ou congênita.


 O Lobo Frontal é a maior parte de toda a estrutura cerebral e por isso é conhecido por sua  alta função cognitiva. Envolve a atenção, pensamento, movimentos voluntários, tomada de decisão e linguagem.
 Algumas problemáticas nesta área podem acarretar  TDAH, esquizofrenia e transtorno de humor bipolar.

O Lobo Occiptal é a área primária visual do cérebro, é por onde enxergamos. Quando o Oftalmologista faz exame de fundo de olho, consegue ver não só se há algum problema com nossa visão (pressão intraocular), como também em nosso lobo.
Problemas nesta área podem causar cegueira, inabilidade para ver cores, movimentos e alucinações.

Lobo Parietal é responsável pela noção de espaço no qual estamos inseridos. Permite coordenar nossos movimentos de acordo com os objetos no ambiente. Essa noção vai mudando todas as vezes que saímos de um lugar para outro, interagindo com o ambiente para  o qual estamos indo. 
Problemas associados: Inabilidade de localizar e reconhecer objetos ou eventos ou partes do corpo(heminegligência), desorientação e falta de coordenação.

Lobo Temporal contém uma variedade de funções, como: percepção, reconhecimento de faces e objetos, memória de aquisição, significado da linguagem e reações emocionais. Lesão nesse lobo causa as agnosias, que tem relação em não reconhecer categorias específicas, como partes do corpo, objeto, faces, musica e cheiros.
 Problemas associados: Dificuldade  em entender o que está sendo falado (área de Wernick), reconhecer faces (prosopagnosia) e objetos (agnosia), perda de memória de curta e longa duração, crescimento/diminuição no interesse do comportamento sexual e agressão.

O Papel do Neuropsicólogo

Nosso papel é o de auxiliar o paciente, não só reconhecendo as fraquezas, mas também as funções preservadas, reabilitando-o para uma condição de vida mais saudável. Trabalhamos em hospitais (avaliações pré e pós-cirúrgicas), instituições multidisciplinares, em consultórios particulares (avaliações, reabilitação e pesquisa), com a família do paciente afetado, com médicos(psiquiatras, neurologistas), no sistema judiciário (avaliação e perícia)e em pesquisa acadêmica.

Alguns pacientes vêm encaminhados pelos médicos ou pelas clínicas, mas nada impede que a pessoa procure o Neuropsicólogo sem nenhum encaminhamento. Às vezes, um esquecimento que incomoda a vida de uma pessoa, um comportamento mal adaptado ou impulsivo, podem ser motivos suficientes para buscar investigar o motivo.

O importante é lembrar: se você acha que algo está alterado e que está lhe trazendo prejuízo, procure ajuda!!



Referência Bibliográfica:

Dolan DNA learning Center at Cold Sprng
Harbor laboratory





terça-feira, 16 de agosto de 2011

A OBESIDADE É TRANSMISSÍVEL?


Sabe-se que “os transtornos adictos são essencialmente problemas motivacionais” (Oliveira apud Heather, 1982) e pensando assim, pode-se entender porque os obesos não realizam as dietas prescritas; pacientes cardíacos não deixam de fumar; o alcoolista não para de beber, creditando à motivação a força propulsora que move os indivíduos a um objetivo.

Então é a motivação que move o sujeito para a tomada de decisão? Sim, cada um com seus desafios e barreiras a serem derrubadas.
Vamos ver o caso da obesidade. Sabe-se que esta já é considerada epidemia global preocupando ministério da saúde e governo de uma forma geral.  Mas o interessante é notar que nas populações de baixa renda a obesidade cresce mais e isso ocorre por dois fatores:
1)      Os alimentos que mais engordam são os mais baratos e mais práticos (como congelados, por exemplo);
2)      A falta de tempo da população para cozinhar de maneira saudável, o ritmo agitado de trabalho e a presença de sedentarismo estão presentes neste grupo. Não esquecendo de mencionar fatores como a falta de dinheiro e em alguns casos, a impossibilidade de caminhar pelas ruas devido a  vizinhança violenta.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é classificada como “doença crônica não transmissível”. Mas, será? Há um estudo que acompanhou durante 25 anos famílias de brasileiros que vivem no subúrbio de Boston, EUA. Essa pesquisa analisou milhares de pessoas incluindo marido, irmãos, filhos e o melhor amigo, sobre o tipo de relação que era desenvolvida entre eles. Após esse período, foi avaliado o que fazia com que aumentasse o risco de se desenvolver a obesidade. A conclusão foi a seguinte:
1)      Se tivesse um vizinho obeso, isso não implicava em nada;
2)      Se tivesse um marido obeso, aumentava um pouco o risco de a outra pessoa tornar-se obesa também;
3)      Mas, se esta pessoa tivesse o melhor amigo obeso, ela poderia se tornar igualmente obesa, ou seja, suas chances eram maiores do que nos casos anteriores.


cafecomnoticia.com.br



Isso ocorre, segundo a pesquisa, porque somos capazes de transmitir a outros nossos hábitos de alimentação e de vida sedentária. Se seu melhor amigo não faz nenhuma atividade e prefere ficar assistindo TV, fatalmente você irá fazê-lo companhia.  Com o tempo, estará assumindo seus mesmos hábitos. Através dessa pesquisa, conseguiu-se provar que os amigos têm  mais influência sobre a vida do outro do que a própria família. E que, portanto, a obesidade poderia ser considerada transmissível, não por bactérias ou vírus, mas através do estilo de vida.
Algo a se pensar não é? Será que somos capazes de introjetar hábitos alheios a nossa vida sem nos darmos conta?
Acredito que depende de muitas coisas e sendo a obesidade multifatorial, não se pode afirmar categoricamente que por um motivo ou outro se desenvolvera numa dada família.
Mas a questão da motivação entra onde? Bom, deveria servir para que se pudesse pensar nisso de forma crítica e mudar os hábitos alimentares. A simples tarefa de se movimentar deveria ser considerada por todos como algo saudável. Pelo simples pensamento de melhorar sua saúde e baixar o colesterol ruim do sangue.
Não é necessário querer ser igual a artistas da TV e se motivar a partir daí, pois provavelmente, você não conseguirá. Basta pensar no quanto seria benéfico para seu corpo, sua família, sua vida ou sua autoestima.
Deixo aqui o recado de que “mudar é preciso, caminhar é preciso”.

Beijos




domingo, 7 de agosto de 2011

Por que comemos Parte II

         Pesquisando para meu projeto com obesidade durante esta semana, encontrei vários dados interessantes e alarmantes revelados em pesquisas.

         Por exemplo, alguém sabia que em dez anos, de 1999 a 2009, número de cirurgias para a obesidade mórbida cresceu 500% no país? O que isso nos diz: que comemos muito ou que nos exercitamos pouco? Esse boom durante esta década mostra o quanto estamos mal conosco e sem preparo para a tecnologia que nos assola cada vez mais rápida com deliveries.

            Falar de obesidade não é algo novo, pois a temática sempre foi alvo das atenções, seja de forma negativa ou positiva.  Se no mundo pré-industrial a opulência do corpo foi considerada ideal, hoje não é o que se vê.

            O médico Wilhelm Ebstein (1836-1912) classificava nessa época a obesidade como polisarcia adiposa de acordo com as reações sociais das pessoas com excesso de peso. Ele as classificava em três categorias:
Dos invejados;
Dos ridicularizados;
Dos coitados.

            Nos dias de hoje, o que se vê comumente é a zombaria e até certa pena por alguns nesta situação, mas certamente não mais motivo de inveja.

            O preconceito parte de todas as classes socioeconômicas com as mais variadas idéias acerca do obeso, que vai desde preguiçoso e sujo até menos inteligente e menos comprometido com as tarefas.

            Em uma pesquisa realizada com pessoas que trabalham na área de saúde, entre elas, médicos, enfermeiros, nutricionistas e estudantes de medicina foi constatado os prejulgamentos e discriminações em relação aos obesos. Muitos enfermeiros gostariam, por exemplo, de não tratar pessoas obesas, mostrando repulsa e preferindo não tocá-las.

            Em outra pesquisa realizada com médicos americanos foi pedido que listassem uma categoria de pacientes que ele tivessem sentimentos negativos em tratar. O ranking foi:
  Dependentes de drogas
2º Alcoolismo
3º Doenças mentais
4º Obesidade
Por que?

            Acredito que encontramos a resposta para a informação fornecida no começo do texto sobre o aumento da cirurgia bariátrica. Ninguém deseja ser desprezado pelo outro, muito menos por uma sociedade que valoriza o belo e o perfeito. Sabendo o obeso que não se enquadra nos “padrões exigidos”, tenta fazer o seu melhor para se encaixar nesse mundo perverso.

            No entanto, a comida é como se fosse uma figura de fundo para algo muito maior escondido ou esquecido na psique do sujeito. Tratar a obesidade não é algo fácil, deve ser considerado o que motiva o sujeito a comer e quais são as emoções envolvidas nesse processo. Nutrir os sentimentos com a comida traz satisfação no primeiro momento e depois culpa e sensação de perda de controle, por ter cedido àquela emoção.

            Podemos entender porque tantas pessoas recorrem a cirurgia bariátrica como forma de melhorar a vida. Mas, necessário lembrar que, essa intervenção não deve ser vista como tratamento para emagrecimento. Pelo contrário, traz complicações sérias no pós-cirurgico em termos psicológicos e biológicos. A preparação e a conscientização desse processo deve ser construído passo a passo com uma equipe multidisciplinar. O estar magro e o ser magro são estruturas lingüísticas e psicológicas totalmente diferentes que devem estar muito claras para o obeso. Sem mencionar a necessidade de acompanhamento psicológico durante longo período.

            Quando as necessidades fisiológicas básicas retratadas por Maslow se sobrepõem às outras igualmente importantes, devemos procurar entender o motivo que nos levou a consumir mais alimento do que gastar energia. Escamotear emoções e jogá-las contra nós mesmos não alivia a raiva que se sente quando é discriminado ou quando não alcançamos um objetivo. Fazemos o mal a nós mesmos e somos o sujeito dessas ações.
           
Referencia bibliográfica:

BOSELLO, Ottavio; CUZZOLARO, Massimo. Obesidade e Excesso de peso: entre a doença e o problema estético. São Paulo:Paulinas, 2010

Revista Psique. Ano VI, numero 67, pp.39-47, 2011.

sábado, 23 de julho de 2011

O QUE É SER NORMAL?

construtivo.blogspot.com



Há algumas semanas, fui surpreendida pela pergunta de uma paciente querendo saber se ter medo de palhaço era normal. Como queria saber o porquê do questionamento, perguntei se era ela quem tinha medo.

_ “Não, é meu filho”. Respondeu.
Nesse momento o menino de 6 anos chega, me abraça, e pergunto a ele:
_”Você tem medo de palhaço? Eu também!!!” Disse.
Ele olhou com alívio e a mãe que acreditava que o filho tinha algum problema, exclamou:
_”Você tem medo de palhaço? Então é normal? Ah, que bom saber disso, achava que meu filho tivesse algum problema...” Disse a mãe.

          Gente, o que temos aqui? Uma pessoa que por ser atendida por um psicólogo já se encontra numa posição perante a sociedade de que algo não esta indo bem consigo. Concluiu daí, que seu filho também poderia ter um problema. Mas por que isso?

          A mãe, por conta de um problema com o qual não estava conseguindo lidar sozinha, procurou um psicólogo para auxiliá-la. Procurou um hetero-suporte, como fala a abordagem Gestáltica. Para ela é válido, mas quando o filho apareceu com isso de ter medo de palhaço, tal fato realmente a preocupou.

Hoje procura-se saber o que é normalidade como quem procura saber o que é saúde. Nesta última ainda é um pouco mais fácil, pois tem-se a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) dizendo que saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças. Mas e quanto à normalidade? Como é possível classificar o que é normal?

            Pode-se dizer o que se espera do outro, dentro de uma perspectiva global, é que ele não tenha nenhum hábito estranho, não tenha comportamentos duvidosos, não aja de maneira equivocada em certas situações, não seja nem muito agressivo e nem muito submisso, não tenha medos irracionais... Difícil compreender e esperar de um sujeito, que ainda em desenvolvimento, tanta “normalidade” e ainda parcimônia diante dos enfrentamentos naturais que a vida oferece.

            E aí vem a pergunta de novo: ter medo de palhaço é normal?  Claro que existem casos, traumas pelos quais a pessoa passa e dos quais jamais irá se esquecer e como forma de continuar a viver, o inconsciente transforma isso em algo aceitável. Mas, não era o caso desse menino. Ele não gostava do palhaço porque não sabia quem estava por trás da máscara assim como eu.

             Mas então ele é normal porque eu sou? A mãe me tomou como parâmetro da mesma forma que o médico toma como referência a OMS e, assim,  classifica a psicopatologia do sujeito utilizando o CID 10 ou DSM IV.

         A missão do psicólogo, acredito, não deve se ater  a responder somente às patologias do sujeito em conflito, mas sim procurar o que ele tem de bom para mostrar que pode haver outras formas de fazer a mesma coisa. Nossa missão não é somente dar laudos descrevendo o problema, mas sugerindo soluções.






sábado, 9 de julho de 2011

QUAL A SUA NECESSIDADE?

Continuando sobre o assunto ....





          Conhecida também como a pirâmide das necessidades, a mesma  propõe uma teoria sobre a motivação humana. Abraham Maslow, desenvolvedor dessa teoria, acreditava na diferenciação entre as necessidades básicas e meta necessidades. Destrinchando a pirâmide pode-se considerar:

  • Sua base são as necessidades fisiológicas ( alimentação, respiração, homeostase, sexo) são inerentes ao ser humano e das quais não se pode “fugir”;
  • A segunda escala diz respeito à segurança do bem estar pessoal e da família  (emprego, saúde, recursos financeiros) para se manter;
  • A terceira etapa mostra a necessidade de relacionamento com o outro, ou seja, a família, a amizade, a intimidade sexual;
  • A quarta é evidenciada pela auto-estima, confiança, conquista;
  • E a última necessidade, o topo da pirâmide, estão a criatividade, espontaneidade, resolução de problemas, são as realizações do sujeito.

          È claro que ninguém para e pensa nisso quando está diante de um desafio ou problema, mas a forma como enfrentamos as dificuldades está diretamente relacionada com as nossas necessidades.

          Maslow dizia que as necessidades básicas surgem de deficiências, enquanto que as meta-necessidades do crescimento. Lógico, não é? Quanto mais rudimentares somos, mais concretos seremos, aceitar o básico para uns é muito, enquanto que para outros é impensável. Note-se que todos têm a mesma base, pois sem o essencial ninguém progride, mas o nível que cada um quer atingir e sentir-se satisfeito é pessoal e intransferível.

         Assim como no post anterior em que perguntei por que comemos, seria óbvio responder novamente porque temos fome. Sim, fome de comida, de água, de sexo, de manter o corpo em equilíbrio (homeostase) e faremos de tudo para mantê-lo assim. No entanto, este estado não é eterno e logo surge outra necessidade a ser satisfeita, o que é normal na vida de todo ser humano. Sempre se busca alcançar o mais alto nível de bem estar, seja qual for a maneira que cada um acredita ser a melhor.


administradores.com.br
Comprar de forma compulsiva pode ser uma forma de “abafar” outra necessidade não satisfeita de forma adequada.



                    Lembre-se que quando uma necessidade é mantida por tempo prolongado e dalí não quer sair, ainda que de forma inconsciente, isso traz prejuízos para a vida e para a psiquê. Imagine o sujeito que tem ânsia sobre o poder e faz de tudo para não perdê-lo? Matar e roubar não seriam empecilhos. Note que isso remete ao alto da pirâmide, considerado como auto-realização, necessitando da função cognitiva superior para alcançar este estado. E o pior, é que muitas vezes admiramos o outro por aquilo que ele possui e não pelo que é; acreditamos e falamos que “fulano não vai preso porque tem dinheiro e, portanto, bons advogados e a lei não o alcança”.  Quando pensamos assim, estamos na mesma sintonia deste sujeito, porque no fundo, se tivéssemos a mesma oportunidade e as mesmas condições, faríamos da mesma forma.



Embora a auto-realização esteja presente  no desejo de algumas pessoas, a forma como esta é alcançada é que deve ser cuidadosa para não ferir as outras necessidades e nem desconsiderá-las. Todas estão presentes em nós. Enquanto seres pensantes devemos ser vigilantes para que uma não se sobreponha a outra nos tornando alienados, angustiados, apáticos ou cínicos.

Referência Bibliográfica: 

HALL, Calvin S.; LINDZEY, Gardner. Teorias da Personalidade. Ed. EPU, 18ª edição revisada, vol. 2.