domingo, 7 de agosto de 2011

Por que comemos Parte II

         Pesquisando para meu projeto com obesidade durante esta semana, encontrei vários dados interessantes e alarmantes revelados em pesquisas.

         Por exemplo, alguém sabia que em dez anos, de 1999 a 2009, número de cirurgias para a obesidade mórbida cresceu 500% no país? O que isso nos diz: que comemos muito ou que nos exercitamos pouco? Esse boom durante esta década mostra o quanto estamos mal conosco e sem preparo para a tecnologia que nos assola cada vez mais rápida com deliveries.

            Falar de obesidade não é algo novo, pois a temática sempre foi alvo das atenções, seja de forma negativa ou positiva.  Se no mundo pré-industrial a opulência do corpo foi considerada ideal, hoje não é o que se vê.

            O médico Wilhelm Ebstein (1836-1912) classificava nessa época a obesidade como polisarcia adiposa de acordo com as reações sociais das pessoas com excesso de peso. Ele as classificava em três categorias:
Dos invejados;
Dos ridicularizados;
Dos coitados.

            Nos dias de hoje, o que se vê comumente é a zombaria e até certa pena por alguns nesta situação, mas certamente não mais motivo de inveja.

            O preconceito parte de todas as classes socioeconômicas com as mais variadas idéias acerca do obeso, que vai desde preguiçoso e sujo até menos inteligente e menos comprometido com as tarefas.

            Em uma pesquisa realizada com pessoas que trabalham na área de saúde, entre elas, médicos, enfermeiros, nutricionistas e estudantes de medicina foi constatado os prejulgamentos e discriminações em relação aos obesos. Muitos enfermeiros gostariam, por exemplo, de não tratar pessoas obesas, mostrando repulsa e preferindo não tocá-las.

            Em outra pesquisa realizada com médicos americanos foi pedido que listassem uma categoria de pacientes que ele tivessem sentimentos negativos em tratar. O ranking foi:
  Dependentes de drogas
2º Alcoolismo
3º Doenças mentais
4º Obesidade
Por que?

            Acredito que encontramos a resposta para a informação fornecida no começo do texto sobre o aumento da cirurgia bariátrica. Ninguém deseja ser desprezado pelo outro, muito menos por uma sociedade que valoriza o belo e o perfeito. Sabendo o obeso que não se enquadra nos “padrões exigidos”, tenta fazer o seu melhor para se encaixar nesse mundo perverso.

            No entanto, a comida é como se fosse uma figura de fundo para algo muito maior escondido ou esquecido na psique do sujeito. Tratar a obesidade não é algo fácil, deve ser considerado o que motiva o sujeito a comer e quais são as emoções envolvidas nesse processo. Nutrir os sentimentos com a comida traz satisfação no primeiro momento e depois culpa e sensação de perda de controle, por ter cedido àquela emoção.

            Podemos entender porque tantas pessoas recorrem a cirurgia bariátrica como forma de melhorar a vida. Mas, necessário lembrar que, essa intervenção não deve ser vista como tratamento para emagrecimento. Pelo contrário, traz complicações sérias no pós-cirurgico em termos psicológicos e biológicos. A preparação e a conscientização desse processo deve ser construído passo a passo com uma equipe multidisciplinar. O estar magro e o ser magro são estruturas lingüísticas e psicológicas totalmente diferentes que devem estar muito claras para o obeso. Sem mencionar a necessidade de acompanhamento psicológico durante longo período.

            Quando as necessidades fisiológicas básicas retratadas por Maslow se sobrepõem às outras igualmente importantes, devemos procurar entender o motivo que nos levou a consumir mais alimento do que gastar energia. Escamotear emoções e jogá-las contra nós mesmos não alivia a raiva que se sente quando é discriminado ou quando não alcançamos um objetivo. Fazemos o mal a nós mesmos e somos o sujeito dessas ações.
           
Referencia bibliográfica:

BOSELLO, Ottavio; CUZZOLARO, Massimo. Obesidade e Excesso de peso: entre a doença e o problema estético. São Paulo:Paulinas, 2010

Revista Psique. Ano VI, numero 67, pp.39-47, 2011.

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